O projeto MACABÉA aporta com a força de um parto
no cenário da difusão cultural no país.
Representado por jovens sedentos de todo Brasil,
o grupo vem ganhando espaço na mídia digital através
do blog literário MACABELAGEM.
O blog hospeda diariamente um “macabéu”
que “dispara” sua produção individual ou coletiva
sem moldes que aflijam a condição do mesmo.
Outro advento do grupo é a revista TRAPICHES
(a principio quinzenal) que trará entrevistas,
acontecimentos culturais, colunas variadas,
garimpagem de novos talentos, resenhas de livros
e as peculiaridades de cada província.
Essa grande reunião de mentes pensantes/pulsantes
comprova a eficácia do trabalho em equipe
e a força do “querer” de cada um .
BRUNO CANDÉAS
poetanu@gmail.com
Autor de Férias do Gueto, Indigestual e Teatrauma
terça-feira, 29 de janeiro de 2008
segunda-feira, 21 de janeiro de 2008
ENSAIO
Líricas da Manguetown: de CSNZ a Candéas
Por Sandro Ornellas
Nos anos 90´s, Recife se tornou a capital brasileira da cultura de invenção. Sem a mesma multiplicidade caos-cosmopolitana de São Paulo, sem a mesma malandragem esquema bossa-nóia do Rio de Janeiro, sem a mesma distante estrangeiridade de Porto Alegre, sem a mesma tropicalidade de balneário afro-mercadológico de Salvador, Recife nos 90´s conseguiu articular como poucas vezes se viu nos anos pós-ditadura militar mentes inquietas, corpos insubmissos e gestos criativos em uma mesma tacada: o Manguebit, ou Manguebeat, ou, ainda, Mangue Beat. Essa tacada é amplamente estudada em um livro lançado no final do ano passado – fruto de uma inspiradora dissertação de mestrado em Letras na Universidade Federal da Bahia – escrito por José Henrique de Freitas Santos e intitulada provocativamente AFROPLAGIOCOMBINADORSCIBERDÉLICOS: afrociberdelia e plagiocombinação nas letras de Chico Science & Nação Zumbi (Salvador, Quarteto Editora, quarteto.livro@compos.com.br). Como o autor faz questão de sempre repetir, Afrociberdelia é um conceito retirado dos próprios discos de Chico Science & Nação Zumbi (CSNZ), enquanto Plagiocombinação é apropriado do disco de Tom Zé, Com defeito de fabricação. Ou seja, ao invés de retirar seus conceitos-base de fontes teórico-críticas, José Henrique os formula a partir de músicos-pensadores, com suas músicas feitas para o corpo pensar. Não que, entretanto, haja um desprezo pelo pensamento teórico-crítico no livro, mas o autor sabiamente o funde às idéias cantadas por esses e outros ricos músicos- pensadores.
O livro opta por uma interpretação da “Cena Mangue” pelo crivo de uma cultura pop(ular) negra transnacional, o que para o autor é legitimado pelo conceito de Afrocoberdelia, presente já no primeiro disco de Chico Science & Nação Zumbi e título do segundo disco, último com a presença de Chico. Aliás, o prefixo afro é explorado em todas as suas potencialidades pelo jovem autor, indo desde a interpretação do samba, do coco, do maracatu e de outros ritmos negro-populares do Brasil como originalmente impuros e transnacionais – pois forjados no que o autor chama, tomando a expressão do sociólogo inglês Paul Gilroy, “Atlântico Negro” – até a impressionante e abusada tese da origem africana da cibernética, idéia tomada a Ron Eglash. Fazendo um mapeamento das referências presente nas fusões musicais, nas letras, em entrevistas e atitudes dos seus principais formuladores de discursos, o livro não se detém apenas na referencialização, mas arrisca interpretações, desmontagens, paráfrases, comentários e fragmentos sobre Josué de Castro, Antonio Conselheiro, Zumbi, Lampião, Zapata, Panteras Negras, bem como também não se faz de rogado em discutir a apropriação da “Cena Mangue” de outras linguagens, como quadrinhos, moda e tecnologias várias, a low tech (nas pick ups dos DJ´s) e a high tech (no atual pólo de tecnologia – Porto Digital – no Recife antigo, bem como a Rede Virtual Comunitária). Aliás, é sempre repetida a imagem-símbolo do Manguebit de “uma antena parabólica fincada na lama”, nos momentos em que é preciso ao autor sintetizar discursivamente as fronteiras (tradicionalmente distantes e nada usuais) com as quais lida a cena recifense. “Cena”, e não “movimento”, frisa José Henrique, para guardar a pluralidade de manifestações e linguagens pelas quais os músicos, jornalistas, cineastas, escritores, artistas gráficos, ONG´s e outros se expressam e intervém, bem como a pluralidade de pensamentos e de interesses dos seus participantes; “cena”, sempre pontual e fragmentária, em contraposição a “movimento”, com líder, manifesto e linearidade hierárquica de pensamento. Essa diferença é demonstrada no livro quando é exposto o corte que os mangueboys produzem com relação ao Movimento Armorial dos anos 70´s, ao mesmo tempo em que reinventam as nações de maracatu para os jovens das comunidades populares, assim como para os jovens da classe média pernambucana; ambos passaram a se orgulhar de pertencer a uma determinada nação.
Hoje, por outro lado, com a Nação Zumbi e outros artistas – Mundo Livre S/A, Otto, Mestre Ambrósio, Cordel do Fogo Encantado, etc. – mostrando serem capazes de se reinventar e dar continuidade aos seus projetos, com a Manguetown, Recife, produzindo cinema de ótima qualidade – vide o excelente Amarelo Manga – e projetos sociais com força local e inspiração internacional, me cai às mãos um rebento que parece apontar para permanência dessas propostas na próxima geração. Falo do livro do jovem paraibano, morador de Recife, Bruno Candéas, intitulado sintomaticamente FÉRIAS DO GUETO (Recife, Edição do autor, brunocandeas@bol.com.br). Sintoma precisamente do tipo de discurso que Recife começou a disseminar nos anos 90´s pelo Brasil, um discurso ambíguo entre o inocente e o irônico, político-lúdico, uma brincadeira levada a sério, como Chico dizia de sua música, e que faz parte das melhores tradições musicais e literárias do Brasil. “Férias”, como temporada sem obrigações profissionais demandadas pela sobrevivência cotidiana, implica que o “gueto” é o (ganha-)pão, a casa, o corpo do próprio poeta, seu território necessário, extensão obrigatória da sua vida. O poeta, no entanto, arrisca outros horizontes, outras modulações poéticas, outros vôos da vida, tirando irônicas férias da labuta diária, que, segundo Tanussi Cardoso, na apresentação ao livro, marca seus livros anteriores:
as mil flores as mil velas tarifaselásticasvem dos Açores vem de Bruxelascomo as clássicasmatemáticase seus favores e suas querelas (“Euro-pêia”)
Por outro lado há urgência em seus textos, o que às vezes leva o poeta a esquecer (mesmo?) pequenas pedras no seu caldo poético – como afirma e elogia João Cabral em um poema-poética –, e sendo seu terceiro livro individual, ainda tão jovem, vejo nessa urgência muito da vontade de intervenção poética no mundo. Essa intervenção pode-deve ser de modo absolutamente pessoal, sem, no entanto, perder a capacidade de comunicar, como no (auto-)irônico “Candéismo”, abertura bastante representativa para o livro: “Meu sobrenome / agora nome: / Candéismo. / Escola / sem vagas / sem logradouro / sem manifesto / ou estardalhaço. / Tendência falada. / Amada / ou odiada. / Desdobrada. / Afoita / feito flato. / Inflamável.” Urgência e intervenção que não perdem de vista uma vontade de experimentar com as palavras, com as grafias, com a espacialização do texto na página desse livro, mesmo que esses procedimentos, todos (ab)usados por Candéas, sejam ao mesmo tempo, e novamente, ironizados por ele – e por isso ‘abusados’. Assim, afirmo ler a ironia como a figura que atravessa verticalmente toda a extensão do livro. O re-nomear o mundo do “candéismo” é sempre limitado pelo seu vetor contrário: o clichê, que é nome (e mundo) esvaziado de sentido: “As palavras ficam caidinhas / por poetas experimentalistas / (...)” (“Férias do gueto”). No entanto, pela urgência, a própria ironia é questionada violentamente em “Raza odiada”: “Quando a natureza / é sinistra / ironiza-se as desgraças // não nos contentamos / em ironizar / o irônico // ironizamos / onde dói / noutro peito // seres como nós / devem viver isolados.” É assim que Bruno Candéas constrói seu universo poético, atento ao próprio homem que há em si, para que possa melhor ouvir (entender) o outro homem (que também há em si). Este texto é uma homenagem pelos dez anos da morte de Chico Science.
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Líricas da Manguetown: de CSNZ a Candéas
Por Sandro Ornellas
Nos anos 90´s, Recife se tornou a capital brasileira da cultura de invenção. Sem a mesma multiplicidade caos-cosmopolitana de São Paulo, sem a mesma malandragem esquema bossa-nóia do Rio de Janeiro, sem a mesma distante estrangeiridade de Porto Alegre, sem a mesma tropicalidade de balneário afro-mercadológico de Salvador, Recife nos 90´s conseguiu articular como poucas vezes se viu nos anos pós-ditadura militar mentes inquietas, corpos insubmissos e gestos criativos em uma mesma tacada: o Manguebit, ou Manguebeat, ou, ainda, Mangue Beat. Essa tacada é amplamente estudada em um livro lançado no final do ano passado – fruto de uma inspiradora dissertação de mestrado em Letras na Universidade Federal da Bahia – escrito por José Henrique de Freitas Santos e intitulada provocativamente AFROPLAGIOCOMBINADORSCIBERDÉLICOS: afrociberdelia e plagiocombinação nas letras de Chico Science & Nação Zumbi (Salvador, Quarteto Editora, quarteto.livro@compos.com.br). Como o autor faz questão de sempre repetir, Afrociberdelia é um conceito retirado dos próprios discos de Chico Science & Nação Zumbi (CSNZ), enquanto Plagiocombinação é apropriado do disco de Tom Zé, Com defeito de fabricação. Ou seja, ao invés de retirar seus conceitos-base de fontes teórico-críticas, José Henrique os formula a partir de músicos-pensadores, com suas músicas feitas para o corpo pensar. Não que, entretanto, haja um desprezo pelo pensamento teórico-crítico no livro, mas o autor sabiamente o funde às idéias cantadas por esses e outros ricos músicos- pensadores.
O livro opta por uma interpretação da “Cena Mangue” pelo crivo de uma cultura pop(ular) negra transnacional, o que para o autor é legitimado pelo conceito de Afrocoberdelia, presente já no primeiro disco de Chico Science & Nação Zumbi e título do segundo disco, último com a presença de Chico. Aliás, o prefixo afro é explorado em todas as suas potencialidades pelo jovem autor, indo desde a interpretação do samba, do coco, do maracatu e de outros ritmos negro-populares do Brasil como originalmente impuros e transnacionais – pois forjados no que o autor chama, tomando a expressão do sociólogo inglês Paul Gilroy, “Atlântico Negro” – até a impressionante e abusada tese da origem africana da cibernética, idéia tomada a Ron Eglash. Fazendo um mapeamento das referências presente nas fusões musicais, nas letras, em entrevistas e atitudes dos seus principais formuladores de discursos, o livro não se detém apenas na referencialização, mas arrisca interpretações, desmontagens, paráfrases, comentários e fragmentos sobre Josué de Castro, Antonio Conselheiro, Zumbi, Lampião, Zapata, Panteras Negras, bem como também não se faz de rogado em discutir a apropriação da “Cena Mangue” de outras linguagens, como quadrinhos, moda e tecnologias várias, a low tech (nas pick ups dos DJ´s) e a high tech (no atual pólo de tecnologia – Porto Digital – no Recife antigo, bem como a Rede Virtual Comunitária). Aliás, é sempre repetida a imagem-símbolo do Manguebit de “uma antena parabólica fincada na lama”, nos momentos em que é preciso ao autor sintetizar discursivamente as fronteiras (tradicionalmente distantes e nada usuais) com as quais lida a cena recifense. “Cena”, e não “movimento”, frisa José Henrique, para guardar a pluralidade de manifestações e linguagens pelas quais os músicos, jornalistas, cineastas, escritores, artistas gráficos, ONG´s e outros se expressam e intervém, bem como a pluralidade de pensamentos e de interesses dos seus participantes; “cena”, sempre pontual e fragmentária, em contraposição a “movimento”, com líder, manifesto e linearidade hierárquica de pensamento. Essa diferença é demonstrada no livro quando é exposto o corte que os mangueboys produzem com relação ao Movimento Armorial dos anos 70´s, ao mesmo tempo em que reinventam as nações de maracatu para os jovens das comunidades populares, assim como para os jovens da classe média pernambucana; ambos passaram a se orgulhar de pertencer a uma determinada nação.
Hoje, por outro lado, com a Nação Zumbi e outros artistas – Mundo Livre S/A, Otto, Mestre Ambrósio, Cordel do Fogo Encantado, etc. – mostrando serem capazes de se reinventar e dar continuidade aos seus projetos, com a Manguetown, Recife, produzindo cinema de ótima qualidade – vide o excelente Amarelo Manga – e projetos sociais com força local e inspiração internacional, me cai às mãos um rebento que parece apontar para permanência dessas propostas na próxima geração. Falo do livro do jovem paraibano, morador de Recife, Bruno Candéas, intitulado sintomaticamente FÉRIAS DO GUETO (Recife, Edição do autor, brunocandeas@bol.com.br). Sintoma precisamente do tipo de discurso que Recife começou a disseminar nos anos 90´s pelo Brasil, um discurso ambíguo entre o inocente e o irônico, político-lúdico, uma brincadeira levada a sério, como Chico dizia de sua música, e que faz parte das melhores tradições musicais e literárias do Brasil. “Férias”, como temporada sem obrigações profissionais demandadas pela sobrevivência cotidiana, implica que o “gueto” é o (ganha-)pão, a casa, o corpo do próprio poeta, seu território necessário, extensão obrigatória da sua vida. O poeta, no entanto, arrisca outros horizontes, outras modulações poéticas, outros vôos da vida, tirando irônicas férias da labuta diária, que, segundo Tanussi Cardoso, na apresentação ao livro, marca seus livros anteriores:
as mil flores as mil velas tarifaselásticasvem dos Açores vem de Bruxelascomo as clássicasmatemáticase seus favores e suas querelas (“Euro-pêia”)
Por outro lado há urgência em seus textos, o que às vezes leva o poeta a esquecer (mesmo?) pequenas pedras no seu caldo poético – como afirma e elogia João Cabral em um poema-poética –, e sendo seu terceiro livro individual, ainda tão jovem, vejo nessa urgência muito da vontade de intervenção poética no mundo. Essa intervenção pode-deve ser de modo absolutamente pessoal, sem, no entanto, perder a capacidade de comunicar, como no (auto-)irônico “Candéismo”, abertura bastante representativa para o livro: “Meu sobrenome / agora nome: / Candéismo. / Escola / sem vagas / sem logradouro / sem manifesto / ou estardalhaço. / Tendência falada. / Amada / ou odiada. / Desdobrada. / Afoita / feito flato. / Inflamável.” Urgência e intervenção que não perdem de vista uma vontade de experimentar com as palavras, com as grafias, com a espacialização do texto na página desse livro, mesmo que esses procedimentos, todos (ab)usados por Candéas, sejam ao mesmo tempo, e novamente, ironizados por ele – e por isso ‘abusados’. Assim, afirmo ler a ironia como a figura que atravessa verticalmente toda a extensão do livro. O re-nomear o mundo do “candéismo” é sempre limitado pelo seu vetor contrário: o clichê, que é nome (e mundo) esvaziado de sentido: “As palavras ficam caidinhas / por poetas experimentalistas / (...)” (“Férias do gueto”). No entanto, pela urgência, a própria ironia é questionada violentamente em “Raza odiada”: “Quando a natureza / é sinistra / ironiza-se as desgraças // não nos contentamos / em ironizar / o irônico // ironizamos / onde dói / noutro peito // seres como nós / devem viver isolados.” É assim que Bruno Candéas constrói seu universo poético, atento ao próprio homem que há em si, para que possa melhor ouvir (entender) o outro homem (que também há em si). Este texto é uma homenagem pelos dez anos da morte de Chico Science.
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sábado, 15 de dezembro de 2007
NAS TRILHAS DA SIMPLICIDADE
Recebo com euforia o livro “Trilhas”, antologia poética organizada por
Virgilene Araújo que reproduz três décadas da incessante guerrilha de
Rogério Salgado com sua verdade fundamental: os versos.
Essa reunião representa um troféu pros admiradores do estilo “livre de estilos”,
é um documento pertinente para futuras gerações.
Dezessete anos depois reafirmo as palavras de José Louzeiro (autor de
Lúcio Flávio, passageiro da agonia): “Infelizmente, vivemos em um país
que perdeu o respeito. Um país que não divulga seus poetas.
Mesmo assim, esteja certo: seu talento é incontestável”.
E digo mais, além de incontestável também é incomum. O coloquialismo
da verve criativa de Salgado soa doce e causa arrepios ao remeter
Drummond em “Poema explicativo para Beto Moreira”:
“Um poeta caminha na calçada. / se fosse um político, uma mulata/
ou um cantor de pop rock/ talvez houvesse alvoroço. / mas é somente um poeta/
que caminha na calçada.” Santa constatação.
Passeando pela visão política de Rogério Salgado, encontramos “Mote
para um samba enredo”(parceria com Virgilene Araújo),
onde ele demonstra toda sua preocupação com as injustiças sociais,
usando o carnaval (nossa maior festa pagã) pra ironizar
os bandidos que nos governam:
“A merda é que / justo no cú do mundo / onde se caga mal / se come mal /
se vive mal/ se fala mal / políticos fazem o carnaval”.
Dono de uma eroticidade refinada e particular, Rogério nos apresenta
e nomeia pêlos, sumos e sensações, todos bem escondidos, porém acessíveis
na arena dos lençóis, sempre lembrando que os dedos nunca estão sós,
como em “Completa Ceia”:
“ Meu tesão/é poder comer teu corpo/ numa ceia/ter ter inteira/
e não somente meia”.
Ou em “Poema teso”:
“O que possuo /entre as pernas /duro e teso feito madeira /
é essa vontade arretada /de fazer besteira”.
Joga com as palavras como se estivesse em uma partida de pôquer,
a diferença é que quase não blefa, assim nos mostra em
“Poema maquiavélico” :
“Cérebro e /mente /da /sacanagem /agem sacana /mente”.
e “Genética”:
“Veneno/ vem/ no/ ventre/ na/ veia/ e/ na/ mente:/ serpente!”.
Rogério Salgado ou Rogério soldado, como queiram, batalhador que é,
de fato e de direito, demonstra todo seu respeito pela poesia,
pelo fazer poético, ao protege-lo com até certo rigor das garras
das feras famintas por desinformação, e dispara certeiro
seu tiro de misericórdia:
DECRETO
Poesia não deve ser dita aos imbecis
pois será como jogar pérolas aos porcos.
O livro “Trilhas” deve seguir sua própria trilha, DEVE CORRER O MUNDO,
pois tem muito a dizer, principalmente sobre compromisso com um ideal,
A poesia de Rogério Salgado, fluminense radicado em minas,
É exatamente isso, uma arte honesta e natural, um exemplo de grandeza.
BRUNO CANDÉAS
Autor de “Férias do gueto” e “Indigestual”
Recife, 17 de novembro de 2007
Virgilene Araújo que reproduz três décadas da incessante guerrilha de
Rogério Salgado com sua verdade fundamental: os versos.
Essa reunião representa um troféu pros admiradores do estilo “livre de estilos”,
é um documento pertinente para futuras gerações.
Dezessete anos depois reafirmo as palavras de José Louzeiro (autor de
Lúcio Flávio, passageiro da agonia): “Infelizmente, vivemos em um país
que perdeu o respeito. Um país que não divulga seus poetas.
Mesmo assim, esteja certo: seu talento é incontestável”.
E digo mais, além de incontestável também é incomum. O coloquialismo
da verve criativa de Salgado soa doce e causa arrepios ao remeter
Drummond em “Poema explicativo para Beto Moreira”:
“Um poeta caminha na calçada. / se fosse um político, uma mulata/
ou um cantor de pop rock/ talvez houvesse alvoroço. / mas é somente um poeta/
que caminha na calçada.” Santa constatação.
Passeando pela visão política de Rogério Salgado, encontramos “Mote
para um samba enredo”(parceria com Virgilene Araújo),
onde ele demonstra toda sua preocupação com as injustiças sociais,
usando o carnaval (nossa maior festa pagã) pra ironizar
os bandidos que nos governam:
“A merda é que / justo no cú do mundo / onde se caga mal / se come mal /
se vive mal/ se fala mal / políticos fazem o carnaval”.
Dono de uma eroticidade refinada e particular, Rogério nos apresenta
e nomeia pêlos, sumos e sensações, todos bem escondidos, porém acessíveis
na arena dos lençóis, sempre lembrando que os dedos nunca estão sós,
como em “Completa Ceia”:
“ Meu tesão/é poder comer teu corpo/ numa ceia/ter ter inteira/
e não somente meia”.
Ou em “Poema teso”:
“O que possuo /entre as pernas /duro e teso feito madeira /
é essa vontade arretada /de fazer besteira”.
Joga com as palavras como se estivesse em uma partida de pôquer,
a diferença é que quase não blefa, assim nos mostra em
“Poema maquiavélico” :
“Cérebro e /mente /da /sacanagem /agem sacana /mente”.
e “Genética”:
“Veneno/ vem/ no/ ventre/ na/ veia/ e/ na/ mente:/ serpente!”.
Rogério Salgado ou Rogério soldado, como queiram, batalhador que é,
de fato e de direito, demonstra todo seu respeito pela poesia,
pelo fazer poético, ao protege-lo com até certo rigor das garras
das feras famintas por desinformação, e dispara certeiro
seu tiro de misericórdia:
DECRETO
Poesia não deve ser dita aos imbecis
pois será como jogar pérolas aos porcos.
O livro “Trilhas” deve seguir sua própria trilha, DEVE CORRER O MUNDO,
pois tem muito a dizer, principalmente sobre compromisso com um ideal,
A poesia de Rogério Salgado, fluminense radicado em minas,
É exatamente isso, uma arte honesta e natural, um exemplo de grandeza.
BRUNO CANDÉAS
Autor de “Férias do gueto” e “Indigestual”
Recife, 17 de novembro de 2007
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